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segunda-feira, 13 de abril de 2009

O pecado mortal da arrogância


Por Raul Candeloro

Depois de ter recebido dezenas de e-mails a respeito, decidi estudar o assunto e dar minha opinião. A questão começou a surgir quando profissionais, geralmente mais jovens ou mulheres, escreviam reclamando de como são tratados em suas empresas. Infelizes, invariavelmente tinham sua produtividade alterada de forma negativa e, deprimidos, só conseguiam pensar em mudar de emprego (ou de chefe).Comecei então a pesquisar. Por que tantas empresas têm sucesso por algum tempo, crescem e depois entram num período de grande turbulência? Por que alguns gestores perdem os melhores professores da sua equipe docente? Por que algumas instituições são pegas de surpresa pela concorrência?Todas essas perguntas têm uma mesma resposta: a arrogância.
Uma pessoa arrogante tem estas características:a) Tem uma opinião irreal das suas próprias habilidades.b) Considera os outros inferiores (complexo de superioridade).c) Usa a arrogância como uma forma doentia de manifestar sua própria insegurança.
O líder arrogante, por definição, acha suas próprias idéias e opiniões muito mais importantes do que as de outras pessoas. Espera dos outros nada mais do que obediência submissa e passiva. Freqüentemente, desrespeita as pessoas e não suporta idéias contrárias às suas, tratando-as de forma negativa e tachando-as de insolência, insubordinação, incompetência. Como só toleram quem se submete de forma servil, vivem rodeados de puxa-sacos. Afinal de contas, acham que são o centro do universo.
Por debaixo dos panosNo começo da carreira essas pessoas manipulam o sistema para subir a qualquer custo. Muitas vezes têm sucesso, pois sua insegurança, transformada em arrogância, serve de combustível permanente para sua compulsão. A única coisa que os alimenta a alma doentia é “subir”, serem reconhecidos, aplaudidos, venerados. Serem respeitados é a única forma de apaziguar a neurose e a dor que sentem na alma pela própria insegurança. Então, se transformam em workaholics, especialistas não só no próprio trabalho, mas também em politicagens e intrigas. Por fim, se são superiores (pelo menos na sua própria concepção), acham justo utilizar qualquer arma – mesmo que seja a trapaça – para subir ou para alcançar o sucesso.O problema é que esse sucesso estimula a arrogância latente, e essa leva ao fracasso. Alguém que se considera perfeito não fará nenhum esforço para melhorar ou aprender. Afinal, como melhorar algo que é perfeito? O arrogante invariavelmente se acomoda e acaba derrubado pela sua própria complacência e estagnação.A arrogância também serve de véu, o qual cobre as imperfeições de si mesmo. O arrogante não ouve conselhos nem aprende com a experiência dos outros. Por ter eliminado do seu círculo de contato todas as pessoas que pensam diferente, o líder com essa característica também não tem ninguém para aconselhá-lo, dizer a verdade ou chamar sua atenção. Mesmo que tivesse, será que prestaria atenção? Provavelmente não. Mais um motivo pelo qual a arrogância leva ao fracasso. A boa liderança conquista através do exemplo. O arrogante se impõe através da força bruta. Por isso, tem o grande problema de criar inimigos. Mesmo pessoas do seu círculo mais próximo torcem intimamente para que ele caia. Quando começa a cair, coisa que pode demorar, mas constantemente ocorre, o arrogante não pede ajuda, porque é arrogante. E quando pede, não encontra, porque todos estão torcendo pela sua queda.
Para a empresa, essa arrogância traz uma série de conseqüências indesejáveis:
a) Os melhores funcionários vão embora: qualquer pessoa equilibrada, que tenha um mínimo de QI e amor-próprio, não fica muito tempo trabalhando para um ditador egocêntrico. Assim, empresas com esses tipos de líderes têm problemas constantes de rotatividade.b) Inovação zero: como o líder arrogante é o centro do universo, só ele pode ter idéias inteligentes. O resto é idiotice. Obviamente, num sistema perverso como esse, ninguém tem idéia alguma – todos têm terror a qualquer coisa que possa ser levemente criativo e inovador, mas que por acaso possa ofender o líder arrogante. O que acontece, então, é que a empresa fica engessada e acaba ultrapassada pela concorrência.c) Incompetência generalizada: sob a regência de um líder arrogante e autoritário, as pessoas que acabam recompensadas não são as mais competentes, mas as que lidam melhor com as emoções do chefe. Ao ocupar essas posições intermediárias de comando com um bando de puxa-sacos, o arrogante consegue uma certa tranqüilidade, já que sabe que ninguém vai questioná-lo. Por outro lado, mostra para todo mundo como é que se sobe nessa empresa (conhece o ditado “o saco do chefe é o corrimão para a glória”?). O resultado é um efeito dominó, no qual a competência e iniciativa são expulsas e tudo o que se faz é só para impressionar e agradar superiores num mundo “faz de conta”.
Mas, afinal de contas, como evitar que isso aconteça?
1) Não deixe que o sucesso suba à sua cabeça. Empresas e pessoas têm sucesso por alguns fatores positivos, apesar de alguns negativos. Nunca se esqueça disso. Entenda suas limitações e pontos fracos. Contrate pessoas diferentes e estimule-as a fazerem coisas também diferentes. Quando você pára de aprender, começa a morrer.2) Seja humilde e escute o que não quer escutar. O que ajuda mais: alguém que o parabeniza ou que o critica? O elogio é sempre agradável, mas não constrói. A crítica, quando usada e interpretada corretamente, é uma poderosa ferramenta de melhoria contínua.3) Não confunda orgulho com arrogância. Orgulho da empresa, dos seus produtos/serviços, do seu passado, da sua equipe – tudo isso é positivo. Orgulho exagerado, obsessivo, cego e vazio vira arrogância. 4) Elimine a arrogância. Não permita que a arrogância tome conta da sua empresa. nem que pessoas com essa característica sejam estimuladas. Não seja você um arrogante.
Num mundo cada vez mais competitivo, onde as únicas chances de sucesso são a diferenciação, o profissionalismo e a competência de toda a empresa – não apenas na definição da estratégia, mas também na sua execução – fica claro que um ambiente tóxico de trabalho não pode gerar bons resultados. Ao eliminar a arrogância, ouvindo e aprendendo de maneira humilde com professores, funcionários, alunos e colegas, um líder terá certamente melhores condições de aprender, adaptar e crescer. O contrário será o isolamento, a estagnação e o fracasso. Lembre-se do que disse Edward Halifax: “O verdadeiro mérito é como um rio: quanto maior e mais profundo, mais silencioso.” Ninguém é tão perfeito que não consiga melhorar. Aliás, essa é a melhor forma do líder humilde dar o seu recado: não se acomodando e procurando aperfeiçoar-se sempre.

Raúl Candeloro é palestrante e editor das revistas VendaMais, Crescimento Pessoal & Motivação e Liderança & Supervisão. Atualmente, faz mestrado de Empreendedorismo no Babson College (EUA). http://www.gestaoemvendas.com.br/

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